Da minha infância e adolescência quase nada vale a pena ser narrado. Sempre fui um mero qualquer, sem grandes destaques e sem grandes quedas. As lembranças mais intensas e as que mais me interessam remontam de cerca de um ano atrás. Imprecisamente desde esse tempo vivo outra vida.
Lembro-me que o Corsa Sedan deslizava na lama mole e escorregadia. Senti um breve frio no peito e, com uma redução de marcha e as devidas correções no volante, pus o carro na direção correta. Chovia. Torrencialmente. Reconheci o trecho e constatei que ainda tínhamos que rodar uns vinte quilômetros até a localidade de Cachoeira, distante vinte e oito quilômetros de Vitória da Conquista.
Depois de pegá-la no terminal da Avenida Lauro de Freitas, expliquei-lhe que iria tratar de uns negócios na zona rural, talvez como passeio valesse à pena e, em breve, a deixaria em casa. Com uma afirmativa em forma de “pode ser”, nos dirigimos à casa de Bruna.
Conheci Bruna há cerca de 4 anos. Trabalhávamos juntos em uma grande loja, onde convivemos por quase um ano. Esta moça, após vir da zona rural, se estabeleceu em Vitória da Conquista, e acumulou várias atividades, entre elas revender roupas a crediário.
Como última parada estacionei em um posto de gasolina, na Avenida Frei Benjamim. Compramos combustíveis para ambos: nós e o carro. Tomadas todas as providências, rumamos em direção aos Campinhos. Os trovões deixaram de prometer. Agora pareciam fender o céu, fazendo desabar grossos pingos de chuva. Ao som de Chico Science e Nação Zumbi avançamos a baixa velocidade, através da estrada que se desfazia em lama.
A forte chuva, aliada às torrentes que se formavam ao longo da estrada, tornava o trajeto lento e perigoso. Era preciso parar. Permanecemos alguns instantes dentro do carro, os faróis ligados permitiam ver os grossos pingos que desabavam sobre a terra. Com os vidros fechados o ar tornava-se úmido e carregado. Fazia calor. Lembrei-me dos tempos de criança: o cheiro de esparsas gotas de chuva molhando a terra, a atmosfera que mudava, os trovões e, súbito, o toró; as ruas viravam verdadeiros picadeiros de um circo sem lonas. Às vezes, em meio ao espetáculo molhado, os artistas eram retirados, com puxões de orelhas e palmadas, por mães ruidosamente cuidadosas. Os palhaços iam escoltados pra casa, com as lágrimas camufladas pela imensidade de água que desabava.
Com a intenção de provocar fiz um convite à chuva. Ana, confirmando o que eu suspeitava, gargalhou afirmativamente. Bruna achou a idéia meio doida. Apressei-me em tirar calça, camisa e sapatos e ficar só de cueca. Ana decidiu molhar a roupa. Saímos do veículo aos pulos e gritos, com os faróis iluminando a estrada deserta. Por alguns instantes brincamos como adultos voltando a ser crianças. Tremi. Não de frio, mas de algo que ocorre quando me encontro em situações de fragilidade. Nervosismo mesmo. Neste momento não me sentia mais criança, mas um adulto que acorda de um momento de sonho e enxerga a impassível realidade. Sapos e rãs saltavam de uma poça para outra. Peguei uma rã, senti sua pele fria e a libertei no córrego que fluía sob meus pés. Pensei nos animais, nos seus ciclos e nas suas simplicidades. A vida para eles era a continuidade da prole, o que importava era a espécie. Experimentei a melancolia que sobrevém à descoberta de uma verdade ou à volta do abismo das reflexões. Sugeri entrarmos no automóvel e prosseguir viagem. Evito fumar mas, nesta ocasião, aceitei o cigarro de Ana e dei boas tragadas. O fumo recendeu pelo interior do veículo e nas entranhas de minha alma. Ainda no século VI aC, Heráclito de Éfeso afirmou que nunca somos os mesmos, que estamos sempre mudando. Naquele momento percebi o exato instante em que as afirmações do pensador grego se comprovavam. Reinava no interior do Corsa uma aura de igreja. Talvez o Sagrado. Os segundos e minutos se transformam horas... Apaguei os faróis e, após acionar a ignição, reacendi-os. Maciamente voltamos a rodar, com a velocidade inversamente proporcional à diminuição do dilúvio.
Na localidade de Iguá não havia mais chuva. Minutos depois, ao chegar a Cachoeira, constatamos que o chão estava seco. Estacionei o carro no fim da estrada. Tomamos uma trilha e caminhamos cerca de 20 minutos, sob o tímido luar. Deixamos Bruna na casa dos pais. Alegamos pressa e recusamos o café. Voltamos pelo mesmo caminho. Ana, apesar do auxilio da fraca luz do aparelho celular, enroscou uma das pernas em um galho de espinho caído no chão, arranhou-se. Conversamos sobre muitas coisas. Fui tomando minhas conclusões: apesar das experiências serem bem distintas, aquela mulher era muito parecida comigo.
Alcançamos o carro e tomamos o caminho de volta. No intervalo dos silêncios sufocantes, esboçávamos um início de conversa. A estrada não apresentava mais os perigos de outrora. Retornamos à cidade. Paramos no mesmo posto de gasolina e compramos duas cervejas. Ainda bebendo rumamos para sua casa. Ana dividia aluguel com duas amigas, colegas de faculdade. Antes de chegar passamos em um bar e refizemos o estoque de álcool.
A casa era singela. Situada em um desses antigos conjuntos habitacionais de Conquista a construção era composta de três quartos, sala, cozinha e banheiro - além de garagem e quintal. Suas companheiras de casa estavam viajando, de forma que ficamos totalmente à vontade na casa. Mais cerveja e, quando me dei conta estava mordiscando e lambendo os lábios de Ana. Minhas suspeitas estavam corretas, reuniam-se naquela mulher o céu e o inferno.
Não me lembro quanto tempo ficamos envoltos como um só corpo, em uma cápsula de suores e secreções. Guardo como ponto de referência o momento em que ela foi ao quarto e trouxe um estojo de maquiagem. Não estava tão ébrio a ponto de não estranhar aqueles produtos naquela hora. Confesso minha surpresa ao ver que a única tonalidade do conteúdo daquela caixinha era branca. Com desenvoltura minha parceira espalhou uma boa quantidade de cocaína sob o vidro do pequeno móvel de sala e, com um cartão telefônico, esticou duas longas carreiras. Em seguida tirou um tubinho de caneta de algum lugar e aspirou uma das lagartas. Deu uma grande espreguiçada, sacudiu os longos cabelos para trás, sentou em meu colo e me beijou longamente. Ao fim tive um leve adormecimento na língua. Senti medo. Já tinha visto cocaína antes, mas nunca havia tido coragem para usar, até então apenas álcool e um baseadinho uma ou outra vez. Senti medo porque naquela hora era diferente. Aquela mulher, o que fizemos... Tive medo por saber que teria coragem de com ela ir aos mais profundos abismos. Derrubaríamos todas as portas e libertaríamos tudo que aspira à liberdade.
Com a garganta semi-adormecida procurei avidamente o corpo de Ana. Repetimos por diversas vezes as operações no tampo de vidro. A cerveja parecia não saciar. Conversamos mais, ou melhor, viramos os mais exagerados tagarelas. Nesta noite soube de parte de sua vida e, como pagamento, fiz uma narrativa das minhas aventuras e desventuras.
Amanhecia. No quintal fizemos uma pequena fogueira de folhas amassadas de papel. Um pássaro passou em um vôo rasante por nossas cabeças. Fumamos e retornamos para o calor do quarto. Dormi um sono inquieto, como cochilos interrompidos por flashs da noite anterior. Ana ressonava ao meu lado como a mais pura das criaturas.
Algum tempo depois – relógios eram acessórios totalmente indesejados entre mim e Ana – despertei. Lembrei dos compromissos do dia: trabalho, contas a receber e a pagar, faculdade e leituras pendentes e toda a minha simples rotina. Senti uma angústia tremenda. Uma espécie de esvaziamento vital e ensaiei uma incursão ao banheiro. Tarefa difícil. Simulei centenas de vezes uma estratégia para vencer os imensos metros que me separavam do chuveiro: enfim, consegui. Após o banho pude destilar melhor meu baixo astral. Chorei. Era como se um enorme bloco de concreto estivesse sob meu peito. Permaneci nessa letargia por minutos, horas, não sei... Em um impulso fui à geladeira e, descobrindo duas latas de cerveja que sobreviveram à nossa sede, procurei restabelecer o nível de álcool no sangue. Tive ímpetos de assaltar o estojo de maquiagem de minha amiga quando percebi que havia restos de pó sobre o vidro da mesa de centro. Tratei de deixar tudo bem limpo. Fui desviado de minha tarefa pelo ruído de um fluxo de líquido caindo sobre líquido: a porta aberta do banheiro denunciava que Ana urinava ruidosamente no vaso sanitário.
Meu telefone dava mostras raivosas e insistentes de que eu tinha vida lá fora. Não atendi. Depois de algumas chamadas não atendidas o silenciei. Ana pegou seu celular e pediu mais cerveja e pizzas. A sessão recomeçou. No meio da manhã um carteiro tentou nos tirar de nosso retiro. Não obteve sucesso.
Alheios ao mundo que pulsava lá fora, permanecemos recolhidos por três dias em nossa pequena bolha. Tive medo de ligar o celular, sabia que milhões de ligações estavam pendentes. Senti nojo de como vivia preso a compromissos, acordos e formalidades. Depois de nos certificarmos que todo o narcótico havia acabado tentamos dormir. Mesmo exaustos, a tarefa não foi fácil. É difícil relaxar quando se está há muitas horas acordado, bebendo e cheirando; por fim dormi três dias.
Não me recordo como e quando mas, ao voltar à realidade, Ana já havia saído. Júlia e Sinara – as outras moças que dividiam o aluguel com minha amiga - já haviam chegado de suas respectivas viagens. Timidamente reuni os frangalhos do que me compunha e tomei o rumo de casa.
Procurei Ana. Inúmeras vezes. Saíamos à noite. Íamos a bares, praças e motéis. Tornei-me uma espécie de inquilino de seu quarto. Bebíamos e cheirávamos constantemente. Comecei a pegar gosto pela coisa e, quando dei por mim, estava negociando cocaína com o submundo dos comerciantes anônimos. A princípio tentei levar normalmente minha rotina, executando minhas tarefas, fazendo meus trabalhos escolares e freqüentando, a contra gosto, o almoço familiar de domingo.
Em certa ocasião resolvemos que não poderíamos continuar bebendo e usando cocaína. Tínhamos consciência que, como fogo e pólvora, juntos éramos por demais perigosos, não havia mais como continuar incendiando as madrugadas sem sairmos ilesos.
Sumi. Ana também desapareceu. Vivi dias que oscilavam entre certo alívio e uma sufocante angústia. O meu espírito tinha sede e anseio dos mais altos vôos. Sentia falta da minha amiga. Desejava novamente com ela dar saltos e acrobacias sobre o colchão da moral e das convenções. Os dias tornaram-se insuportáveis. Voltei a beber, com uma sede maior que antes.
Não estou certo exatamente da data, mas me recordo que era uma sexta feira. A rua estava bem movimentada, o fluxo de carros e pedestres dava mostras que aquele era um pedaço pulsante das frias noites conquistenses. Logo no início do circuito – esquina com a Praça do Gil – O ambiente é pequeno e cadeiras e mesas plásticas obstruem a passagem daqueles que tentam acessar o pequeno recinto. A fumaça de cigarro dava a impressão de estarmos em uma sauna ou encobertos pela cerração. Do lado de fora mesas ocupavam a calçada e impediam os carros de estacionar em frente ao bar. Os freqüentadores do Paraki se difereciavam dos demais por serem o que chamamos de público alternativo: o pessoal que curte rock (é o som que predominava), artesãos, artistas, intelectuais, professores e estudantes, além de uma diversificada fauna de tipos humanos. Contraditoriamente, logo acima, no Castelo do Vinho, o ambiente era diverso: o som era outro (qualquer coisa que esteja fazendo sucesso nos meios populares é exaustivamente executado a noite toda), os visuais são mais apurados. Carros, cabelos, celulares e batons deixavam claro que o pessoal ali tinham, ou pretendendiam ter, certo status de ladys e sirs. Sempre prefiri o Paraki ao Castelo do Vinho. Na verdade conheço muito pouco este, creio que o freqüentei duas, ou três vezes, totalmente embriagado.
Entrei no Paraki, cumprimentei os conhecidos e, com algum esforço, consegui chegar ao balcão. Tomei meu conhaque vagarosamente. Há dois meses não via Ana. Tinha ouvido dizer que ela estava saindo com alguém e, como tínhamos combinado, não houveram telefonemas. Pedi outro conhaque, seco. A TV, sem áudio, exibia o Programa do Jô. Acima, em uma estante à minha direita, duas caixas de som despejavam a poesia de Cazuza:
“Vivo depressivo
Na areia da praia
Eu banco o depressivo
Talvez você caia
Na minha rede um dia
Cheia de cacos de vidro
De cacos de vidro”
Os vapores do conhaque, e a melodia, me embalaram ladeira abaixo. Aguardei pacientemente a fila do banheiro e finalmente pude aliviar minha bexiga. Paguei a conta e tive a intenção de sair discretamente quando me deparei, à entrada, com Ana, Júlia e Sinara, além de dois outros rapazes.
- Já vai? Disse Ana, com sua característica voz felpuda.
- Ah, sim. Tava de saída. Respondi timidamente.
- Tá cedo, atalhou Júlia, pastosamente e amparada por um dos moços.
- Fica com a gente, complementou Sinara, encorajando-me com uma piscada com olho direito.
Fingi certa pressa e, depois de algumas insistências, cedi ao meu real interesse: ficar com Ana.
- Ah, quero te apresentar o João, meu amigo. Disse Ana com certa formalidade. Este é Rubens, seu colega. Eles são representantes comerciais.
- Muito prazer, respondi ao cumprimento, com um aperto de mão.
Os caras não aparentavam ser maus. De inicio mantivemos nosso comportamento de forma discreta, nos estudando mutuamente. Percebi que, exceto a mim, todos na mesa estavam com corise. As meninas usavam lenços de papel e os rapazes fungavam de forma mais ou menos educada. Deduzi logo o porquê e alfinetei:
- Essa mudança de clima em Conquista deixa todos gripados. Parece um resfriado coletivo e sem fim.
- Isso mesmo, disse um dos rapazes.
- É... uma gripe danada, riu Júlia, levando o indicador à narina direita e dando uma vigorosa puxada.
- Tá rolando, disse Ana, com ar de professora que tolhe as piadas dos alunos.
- Mesmo? Exclamei com um falso espanto. E aí, continuei com um ar sério, onde faremos o rock?
- Vamos pra casa, sugeriu Sinara.
- Logo, sem demora, traí minha falsa calma e demonstrei toda a minha ansiedade.
- Calma, acabamos de chegar, vamos ao menos tomar umas cervejas antes de sair. Sentenciou Ana.
Os rapazes permaneciam a maior parte do tempo quietos ou, vez por outra, trocavam entre si umas frases inaudíveis. As garrafas de cerveja foram vindo e sendo esvaziadas, duas, três, cinco... Quando, finalmente, decidimos pagar, nos demos conta que havíamos consumido quinze garrafas: nove litros de cerveja.
Enfim, fomos pra casa. Senti um frenesi por estar novamente entre aquelas paredes que tantas coisas testemunharam. Senti ciúme dos amigos de Ana. Imaginava com horror o que um, ou os dois, tinham feito com ela e, logo ali, onde tanta coisa tinha acontecido ente eu e aquela mulher.
A cerveja gelada e o pó amargo foram tirando o gosto de ciúme de minha boca. Foi irrelevante ver Ana trocando carícias com um dos rapazes e pouco me surpreendi quando Sinara me enlaçou pelo pescoço e me conduziu por trêmulas curvas morenas aos mais loucos cumes. Júlia, totalmente embriagada, clamava para ser duplamente penetrada. Não me recordo a ordem mas, em algum momento, Ana veio a meus braços, não só transamos, fizemos amor. Naquele mar quente de carnes, uivos e sussurros, refizemos nossa ilha e decidimos voltar a habitar nela. A festa terminou pela manhã, em uma churrascaria da cidade. Com direito às últimas cervejas e fatias de carne mal-passada.
No dia seguinte fui morar com Ana. Primeiros dias e a convivência com as outras moradoras transcorreram sem problemas. Logo vieram os ventos da discórdia. Havia entre Júlia e Ana uma relação afetiva. Júlia sofria acres dores com os relacionamentos de Ana, mas eram aventuras pueris, distantes dos olhos e sem o nível de cumplicidade e intimidade que existia entre as duas amigas. Com a minha vinda para o convívio diário a coisa mudara. Eu era praticamente o marido de Ana. Era muito difícil de aceitar. Somando a isso, as meninas não mais desfrutavam de suas liberdades para desenvolver e preparar feitiços e encantos. Em pouco me vi perseguido por toda uma série de pequenos venenos e conspirações.
Com certo desgaste Júlia e Sinara foram embora. Ficamos com a casa só para nós. É verdade que, com a saída das meninas, o aluguel aumentou, mas tínhamos liberdade. Dávamos festas regularmente. Íamos aos bares da cidade, às festas de camisa, vaquejada e shows. Fizemos até duas viagens, uma para Lençóis e outra para Itacaré. Éramos clientes vips dos traficantes da cidade. Procurei bom investimento para os mais de oito mil reais que saquei da poupança e as minhas sobras de mercadoria que fui torrando pouco a pouco.
Não sei quem seguiu quem mas, depois de um tempo, Ana e eu trancamos nossas matrículas na faculdade. A academia soava óbvia e chata demais para as nossas vidas aceleradas. Viajamos para Salvador, onde conhecemos todos os hotéis baratos da Cidade Baixa. O dinheiro passou a ser um problema que ameaçava o nosso dia-a-dia. Viramos-nos como podíamos. Eu sempre precisava ficar bêbado para ver Ana partir e chegar, sempre diferente, meio murcha, como se tivesse sido amarrotada dentro de uma máquina de lavar. Outras horas me embalavam a cocaína e o Campari para produzir prazer homossexual de forma infalível. Ficamos nessa não sei por quanto tempo. Até que conhecemos Caio. Moreno, cabelos lisos, estatura mediana, e uns vivos olhos pretos. O gaúcho só conseguia penetrar uma mulher sendo possuído por outro homem ao mesmo tempo. Para seus clientes e todos os seus parceiros no negócio de transporte e venda de cocaína, Caio escondia suas preferências sexuais.
Depois de um breve acerto iniciamos nossas atividades ilegais no transporte e venda de narcóticos. Para nós mercadoria para consumir não seria mais problema. Recebemos uma passagem para Cuiabá, de lá fomos levados para uma fazenda e fomos apresentados a alguns senhores.
Negócio acertado, instruções dadas e lá estava, num quarto de hotel, fronteira do Brasil com o Paraguai. O ar estava abafado. Quebrei mais um pedaço de dente, há um tempo meus dentes estavam se esfarelando. Dizem que é o efeito da descalcificação causada pela cocaína. Que importava? Faria aquela viagem. Depois e mais duas, então teria dinheiro para por dentes novos. E Ana que não chegava... Já era para ter voltado... Ah, se pudesse tomava algo antes de embarcar e só acordaria em Salvador. Ana, se ao menos tivesse um celular aqui... Já devia ter chegado, pensava aflitamente... Este dente que não parava de doer. Bem, quem tem cinco quilos de cocaína pura na mochila não devia sofrer com dor de dente. Fui orientado a não cheirar durante a viagem, mas um tirinho não faria mal. O quê? Ouvi um barulho, tinha gente na porta.
-Quem está aí? Perguntei. É você Ana?
- Polícia Federal! Abra a porta ou vamos arrombar. Você está cercado.
Lúcio Flávio
Lúcio Flávio
Você sabe que sempre te admirei. Mesmo parecendo certinha tenho a alma inclinada à poesia e aos devaneios. Acho que você já percebeu isso. Adorei este texto, sua cara e, por que não, a minha. Sei que você sabe quem sou ( afinal, sempre te dei dicas ). Perfeito! Tudo na sua hora, Meu marginal...
ResponderExcluirEstou sempre te acompanhando. Apareça, teremos nossa hora.
( acho que você entende minha posição)
Continue escrevendo, sempre serei sua assídua leitora.
M.M.
Como a vida é mais simples quando somos apenas palhaços no picadeiro do circo das chuvas.
ResponderExcluirMas, sempre, nossos telefones tocam e nos forçam a viver a mediocridade.
CARA, SE TU ME DISSER QUEM É ESSA ANA TE DOU UM DOCE. RS
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ResponderExcluirMuito boa a história!!
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