Depois de dirigir por 4 horas, puxando 7 toneladas de pepinos, amendoim, chuchu, milho e tomates, Deraldino Santos, mais conhecido como Seu Déu, saiu da cidade de Jaguaquara às 6 horas da tarde e chegou a Vitória da Conquista às 10 da noite do dia de ontem. “Nem sempre dá pra chegar antes das 7 da noite, depois desse horário os portões são fechados e aí temos que dormir aqui do lado de fora, na fila”. Contou Seu Déu. Chega sua vez de entrar, recebe a guia para pagamento - 25 reais – e segue para a operação de descarga. Dentro, abrigados sob a estrutura de zinco, carregadores posicionam seus carrinhos e aguardam o estacionar dos caminhões. Recebem de 15 a 25 centavos por volume transportado. Sentado em seu carrinho, usado para transportar sacos de batata, caixas de tomate e demais produtos, Osmar Novais, há 10 anos trabalhando com carga e descarga de caminhões no Ceasa, explica: “Em dia bom dá pra tirar 60, 70 reais, mas tem dia que é parado. Dá uma média de 500 a 800 reais por mês.” O carrinho, conta, custou-lhe 600 reais.
Do outro lado, no pátio onde estão parados vários caminhões, dois descarregadores expõem a carga de um Mercedes Benz truck L 1620: 750 caixas de maçãs, vindas de Vacaria, RS. Apesar de já ser 5 horas da manhã ainda está escuro. “Saí segunda feira à noite e cheguei aqui agora de manhã, quase toda semana faço essa viagem, quando não sou eu é outro colega que vem”. Disse o motoristaValcir Paludo, gaúcho de David Canabarro. Enquanto as caixas vão sendo descidas, forma-se um pequeno comércio ao lado da carroceria, alguns chegam, perguntam o preço da maçã. “25 reais, a 198”. Responde um rapaz moreno, boné branco e prancheta nas mãos. “Mande 5 pra mim”. Encomenda o cliente. “As maçãs vêm classificadas em uma escala de 60 a 198 unidades por caixa, como uma caixa tem 18 kg, quanto menor a quantidade, maiores serão as maçãs.” Informou Leandro Oliveira, mais conhecido como Léo, encarregado de controlar a descarga para um atacadista de frutas e verduras.
Desde que foi transferida do centro para uma das modernas avenidas da cidade, em fins de junho de 2008, a Central de Abastecimento de Vitória da Conquista tem gerado polêmicas e controvérsias. Para descarregar um veículo de 1 tonelada paga-se R$ 5,00, podendo ser cobrado até noventa reais para caminhões de cinqüenta e quatro toneladas. Fiscais municipais fazem o trabalho de controle de tráfego e recolhimento de taxas. Para os carros que vêm carregar – entram vazios, ou com pouca carga – é fornecida uma ficha que dá direito ao acesso livre. O horário de funcionamento é das 5 da manhã, às 7 da noite, com exceção das terças e sextas, quando os portões são mais cedo, às 4 da manhã.
A manhã avança, com um sol que nada lembrava o frio início de dia. Onze horas. O movimento cai, de forma que se instala um clima de fim de feira. Funcionários da Central de Abastecimento instalam uma caixa de som com microfone na praça de alimentação. 11:30 da manhã. O equipamento é ligado. Florisvaldo Bittencurt, Coordenador da Secretaria de Serviços Públicos, inicia a palestra ressaltando a necessidade da legalização dos permissionários e a obrigatoriedade da taxação de serviços públicos. Mais à frente, quando trata dos custos das taxas, explica: “a preocupação do nosso governo é com os pequenos, por isso não iremos cobrar a mesma coisa de quem movimenta 1 tonelada por semana com os que negociam caminhões. O uso do solo será cobrado em duas faixas, pra quem utiliza de 1 a 31 metros quadrados pagará 4 reais por metro, acima disso o valor será de 8 reais por metro quadrado.” “Iremos arbitrar de forma justa”. Completou Miguel Felício. O processo de licenciamento foi iniciado em 15 de junho e as guias de recolhimento para utilização do solo serão começaram a ser emitidas em julho.
“Saí de um lugar que pagava 850 reais anuais, e agora vim pra um lugar privado que vou pagar R$ 1.600 mensal, R$ 18.000 reais por ano”. Queixa-se Álcio Cláudio, presidente da ACATACE – Associação dos Comerciantes atacadistas do Ceasa. Para Mazinho – Sérgio Pacheco– vice presidente da ACATECE - “está havendo um questionamento muito grande em relação a isso porque a gente saiu de uma área pública e teríamos que ir pra outra área pública. Fomos colocados em uma propriedade privada, e aí estão querendo tirar da gente esse custo e, infelizmente, quem paga no final é o consumidor”.
Toda mudança vem acompanhada de incertezas e medos o que leva a resistências. É consenso que a cidade, para crescer, precisava desafogar o tráfego que congestionava o centro da cidade, onde funcionava o antigo Ceasa. Notório também é a urgência de melhorias na atual estrutura. Enquanto isso o cidadão conquistense vai à quitanda, ou à feira, enche sacolas plásticas e abastece sua cozinha de frutas e verduras que passaram pelo Ceasa.
Conquista, junho de 2009.
Alberto Oliveira
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