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sábado, 17 de abril de 2010

Asas ao vento

Hoje, por volta do meio dia, um fato curioso chamou a atenção dos que passavam na avenida Olivia Flores, próximo ao Semai. Na parte da pista que está sendo duplicada algumas pessoas retiravam hastes e equipamentos de um reboque. Tecidos de náilon foram esticados, com varetas de alumínio, de forma que logo se notava a estrutura de uma asa delta. Em seguida uma espécie de trenó, com dois acentos e um motor com hélice, foi descido do reboque. Em pouco mais de 20 minutos o trike azul - uma espécie de ultraleve – estava pronto para decolar.


O piloto acelerou o motor Wolkswagen 2.2, inteiramente modificado para aquela modalidae esportiva, de forma que a hélice causou um forte deslocamento de ar, dando velocidade ao aparelho. Poucos metros percorridos e, em uma guinada, as enormes asas divorciaram-se do chão. Olhares curiosos apontaram para o céu a observar, homem e máquina, fundidos num só, a cavalgar no vento.
Conquistense de nascença, mas vivendo há muito tempo em São Paulo, Manuel Carlos é um aficionado por máquinas voadoras. Profissional do ramo publicitário, ele relatou que tem planejado essas férias há dois anos. Veio a Vitória da Conquista visitar os irmãos e, como carrega sua máquina voadora a reboque, quis ver a cidade de cima.
O trike é uma espécie de asa delta motorizada. Uma enorme asa é acoplada a uma estrutura de metal e fibra, onde ficam os dois ocupantes. Há sistema elétrico, marcador de combustível, rádio, faróis cintos de segurança e o uso de capacetes é obrigatório. Geralmente o motor é um Wolkswagen, de Kombi ou Fusca, mas inteiramente modificado. O preço de uma aeronave desta varia entre 15 e 30 mil reais. É necessário fazer o CPD (Curso de Pilotos Desportivos ) e efetuar o registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
  5 minutos após decolar Manuel pousou, há poucos metros de onde tinha partido. Voou só. Era necessário checar as condições de vento e o mais prudente era ir com o trike mais leve. Como nenhum dos parentes que o acompanhavam tinha coragem de experimentar um vôo, perguntei se ele me levaria, para fazer umas fotos aéres da cidade. Resposta positiva. Iria na próxima decolagem, pois naquela iria um rapaz, amigo do piloto.
 Ventava. Mais adiante, além da Santa Marta, o horizonte estava escuro. Torci para que o tempo não piorasse. O aparelho decolou, em uma subida mais assustadora que a primeira. Adiante, perto do viaduto que cruza o anel viário, o trike fez uma nova escalada, em um ângulo acentuado e sacudiu bruscamente, pareceu um pipa com pouco rabo, em dia de ventania. Cheguei a reconsiderar minha aventura aérea...
  Novamente no solo o piloto explicou, com um certo ar de decepção, que as condições estavam muito ruins, a velocidade do vento estava alta e havia muita turbulência. Não dava mais para voar. “Não se deve brincar com a natureza, apenas respeita-la”. Justificou Manuel Carlos.
 As fotos aéreas ficam para a próxima oportunidade.
                       Conquista, 14 de julho de 2008.



Observação: No dia seguinte, Manoel foi visitar uns parentes na cidade de Tanhaçu, distante 120 km de Vitória da Conquista. No trajeto, perto da localidade de Sussuarana, devido às fortes correntes de vento, Manoel Carlos caiu com sua máquina voadora, vindo a falecer.
                                                                                       Alberto Oliveira

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