Nós
somos este livro. E ele nos é
Por Gil Brito
Alberto Marlon é
um marginal, dizem. Ele sabe disso e não se incomoda, pois seus escritos o
denunciam como tal. E, para desgosto de alguns, o autor aceita tal definição e
até pode ser que a tome por elogio. A explicação é simples e, inclusive, óbvia:
ele conhece o real significado do termo “marginal”, que é bem diferente da
forma deturpada que utilizam por aí.
Não se trata de
“bandido”, como apregoa o senso comum. Aliás, nem todo marginal é bandido. E,
como se sabe, vice-versa. Na verdade, marginal é aquele cidadão a quem se nega
até mesmo a qualificação de “cidadão”. É o sujeito que, por desígnios sociais,
particulares, psicológicos ou mesmo filosóficos, viu-se empurrado para fora dos
limites do convívio com a sociedade. Tornou-se excluído do ângulo de visão das
“pessoas de bem”. Perdeu os laços com o dito – e tão apregoado – sistema.
Alberto não
ouviu falar do que chamam de “vida marginal”. Ele simplesmente a viveu. Sentiu
na própria pele, muitas vezes não sem alguma dor, os sintomas de ser aquele a
quem boa parte das pessoas olha e finge não ver. É tênue a linha que separa os
ditos cidadãos “normais” daqueles a quem chamam “marginais”. Alberto caminha
sobre ela com a desenvoltura de um artista do Cirque du Soleil.
Por que “Quartos
de Hotel”? Ora, é nesses ambientes, ora agradáveis, ora deploráveis, que muitas
histórias começam – e, naturalmente, também onde muitas terminam. Diversas
vezes, de modo trágico. Aqui, os quartos de hotel são utilitários e servem ao
propósito para o qual foram concebidos. São baratos, caso o leitor queira
saber. Sempre baratos. Senão, as histórias aqui contadas não teriam o sabor – e
a verossimilhança – que possuem.
Nestes quartos
de hotel, corpos se atrelam em tórridos encontros noturnos, enquanto, em outros
locais, outros corpos também se entrelaçam em outros hotéis baratos pelo mundo
afora. Nos hotéis caros, diga-se de passagem, as histórias também se
desenrolam. Mas é nos baratos que elas adquirem os contornos que as credenciam
como “marginais”. Alberto sabe disso. Afinal, ele já passou por vários
caminhos, e deles soube extrair o que precisava – e, cá entre nós, até o que
não precisava.
Nestes “Quartos
de Hotel”, os personagens de Alberto podem ser qualquer um de nossos amigos –
ou até qualquer um de nós. Ou ele próprio. Independentemente disso, há que se
atentar para a densidade das histórias que são contadas a cada capítulo. O
narrador é o “pecador” sem culpas que se divertiu em meio à “Babel olfativa”,
na qual era impossível distinguir um perfume em especial. Amou entre lençóis
que aparavam suores. Desceu até os últimos degraus da dignidade humana,
deixando de assenhorear-se de si mesmo e agindo como um passageiro de seu
próprio corpo. Amou novamente, sob outros lençóis. E conseguiu transformar tudo
isso em literatura densa e agradável. E, para o deleite de todos nós, sentou-se
em frente ao teclado e escreveu.
P.S.:
E, como diria João Saldanha, “vida que segue”...
Crônicas bem delineadas e encadeadas para o deleite do leitor. Ótima leitura. Parabéns, Marlon. Abraço. Alano
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