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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Webcam

Um leve cheiro de sexo pairava na atmosfera do pequeno quarto desarrumado. Na cabeceira direita da  cama, ainda desforrada, um cinzeiro sepultava algumas bitucas de cigarro. Joana (para uma maior proteção de minha fonte  os nomes aqui mencionados são fictícios) me recebeu com um sorriso amarelo, quase uma desculpa: “oi Beto. Entra, não repara a bagunça, ou melhor, repare mesmo. É que meu namorado acabou de sair...”
Minha conhecida, uma morena de 22 anos, cabelos pretos, lisos de uma escovinha com regularidade germânica, cintura fina, quadril largo, coxas grossas e seios pequenos, uma beleza tipicamente brasileira. A casualidade nos pôs em sincera amizade meses atrás. Por mais de uma ocasião serviu de fonte de informação, de muita utilidade na atividade jornalística. Freqüentadora das rodas noturnas conquistenses, e estagiária em um dos hospitais da cidade, Joana tornou-se uma informante valiosa.
 - Ainda namora fulano? Perguntei com um ar de naturalidade.
 - Ah, não. Cláudia, aquela cachorra,  fez e refez, até que tomou meu namorado”. Disse, sem disfarçar o desgosto com a ex-amiga.
- E agora? Perguntei. Quem é o felizardo?
- Ah, você conhece Cláudio, dono da ...... ?
- Não, acho que não. Tem foto?
-Sim, no meu Orkut. Você tá com Internet aí?
- Sim, respondi, sacando notebook da mochila e, após ligar e conectar ao modem sem fio, passei pra moça.
-Tá aqui, ó. Bonito? Tem 46 anos. Mas, vou te falar, dá de dez nesses menininhos que têm por aí, ainda por cima é rico.
- Você, hein? Respondi com um piscadela de cumplicidade.
- Mas você tinha uma paixão, não foi isso que me disse, ano passado?
- Ah, é...fulano... Vacilei com ele. O homem é de opinião: tinha me avisado que eu não sacaneasse. Escorreguei. Até hoje ainda me lamento. Até encomendei um “trabalho” com uma Mãe-de-Santo... Um dia esse homem vai ser meu.
- É o policial? Perguntei, relembrando uma conversa que tivemos meses atrás.
- Sim, esse mesmo. Agora ele está no sul da Bahia. De vez em quando nos falamos pela Internet, ele consegue uma cortesia com alguma empresa de ônibus e eu vou passar o fim-de-semana com ele.
- E este atual. Não rola um sentimento?
- Ah, é um cara maravilhoso, muito experiente, quero me apaixonar.
- Ele te sustenta? Perguntei em um tom confidente.
- Ai, Beto, ainda não fiz minhas queixas financeiras com ele, tenho vergonha. Não quero que ele pense que eu quero apenas seu dinheiro.
 - Mas isso não é importante?
- Ah, você nem sabe como estou apertada. Mas não quero lhe pedir dinheiro agora, senão desvaloriza. Não quero que ele me veja como uma putinha qualquer.
- E o que você quer?
- Um homem que me dê segurança, talvez uma grande paixão. Quem sabe um casamento, de branco, com véu e grinalda.
- E dinheiro? Sei que o que seu pai te manda não dá pra bancar seu padrão de vida. Como tá fazendo pra se virar?
- Ah, cê sabe. Ainda tenho alguns amigos que, de vez em quando, me ajudam...
- O que “rola” em troca. Você, mais do que eu, sabe: não existe almoço grátis.
- Pois é... a depender do dia saio com um que tô afim. São super educados. Arrumo uma “ajuda de custo” de R$ 150,00 ou 200,00. Depende.
- Você considera isto prostituição?
- Não. É uma relação de troca. Dou a eles bons momentos, e eles me ajudam com minhas despesas. Além do mais não faço ponto em nenhum lugar, nem saio com qualquer um.
Enquanto conversávamos, Joana deu uma passeada por perfis em um site de relacionamento, logou no MSN e começou a teclar com amigos. De repente alguém prendeu sua atenção mais que os demais. Pude notar por sua urgência em manter o diálogo.
- Beto, esse seu notebook tem webcam?
- Sim, é só ativar no Messenger.
-Ô Beto, me faz outro favor?
-Diga.
- Você pode me dar uns minutinhos, é que quero fazer uma coisa.
- Faça, ou é algo que não posso ver?
- Ah, pra você posso falar: é que esse amigo – um engenheiro que mora em Salvador e trabalha no Pólo Petroquímico de Camaçari e, pela foto do perfil, devia ter uns 50 anos – pediu pra deixá-lo feliz, um pequeno show pela webcam. E, com você aqui perto, não ficarei à vontade. Entende?
- Ah, claro. Respondi, com outro sorriso cúmplice. Vou dar uma volta. Quanto tempo?
- Uns 10 ou 15 minutos.
Saí, subi na moto e passei pelas ruas do bairro Candeias com a sensação de estar jogando aqueles 15 minutos de minha vida às favas. Apenas meu sentido de cavalheirismo me trazia algum conforto.
Retornei. Passei pelo portão e atravessei o longo corredor que dava acesso às dependências dos fundos – era uma grande casa, vários quartos, alugados a estudantes. Nunca contei, mas imagino que moravam, e ainda moram, mais de vinte pessoas naquela habitação coletiva. Bati na porta do quarto.
- E aí? Posso entrar?
- Ah, claro, já terminei. O velho ficou louco. Disse que vai me mandar uma passagem de avião pra Salvador.
- E você vai? Não é fria?
- Nada, já o conheço de outros carnavais.
- Ah, bom. Então vou indo. Posso desligar a máquina?
- Claro. Ah, Beto, você é um amor.
- Que nada, apenas sou gentil com minhas amizades. Respondi, me esquivando dos elogios – meu instinto aprendeu, por condicionamento, que elogios quase sempre vêem acompanhados de pedidos.
- Joana, vou indo. Bom te ver. Qualquer coisa me liga.
Despediu-se de mim com três beijinhos na face e, quando eu já estava quase fora do cômodo, ela falou:
- Beto, me empresta dez reais?

11 comentários:

  1. Eu que conheço seu trabalho desde os tempos de faculdade (cá entre nós, um tempo não tão longínquo) fiquei curioso para saber quem é essa atriz da vida real. Como é sabido que não terei resposta a tal enigma, só me resta expressar minha admiração pelo texto bem escrito, e que nos prende a continuar sua leitura de forma integral

    Parabéns!

    Péricles Luís!

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  2. Muito bom! Bem aguçante, a la Bruna Surfistinha!!!! Nâo é um vitupério...

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  3. Pohha, me empresta dez reais ....Sem mais !!

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  4. se a logica eh essa e a cada dia o romantismo vai para o cheiro do ralo e a cada dia fede mais e a cada dia se vende mais "bom ar", é para esconder e para deixar mais gostoso a logica pervesa... a hipocrisia se alimenta da sua comida mais saborosa,a maquiagem limpa, a cara de boneca, a "inocencia" como fetiche de uma logica pervesa e saborosa...e todo mundo quer um selinho por 10 reais de uma moça da boca grossa, da putisse de uma jovencita que não tem mais pudores em uma sociedade de machos provedores, que iludidos trabalham para prover o luxo de suas putas...o mundo gosta de ver o oco e todos sabem disso mas o olhar romantico prevalece

    george neri

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  5. aAdorei o texto. prende nossa atenção. Gostei muito da forma como escreve.

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  6. Que gostoso de ler! Parabéns

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  7. As meninas não sou poucas (nem os tios, nem os amores, nem os desejos...), e o retrato não poderia ser mais sul-real em Conquista.

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  8. Cara, eu conheço algumas meninas assim aqui em Conquista. Outras já não estão em Conquista,rs. Bom texto. Não poderia ser mais real em Conquista.

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  9. Curiosidade apenas.
    Como foi que ela te pagou esse empréstimo de R$10,00?
    Você cobrou juros?

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  10. Essa vadia "recatada" deve ser uma delícia, não?
    Vejo tantas meninas gostosas espalhadas por essa cidade e, na minha ingenuidade, me pego supondo se algumas dessas delicinhas que desfilam diariamente pelo Centro com todo luxo e sensualidade que as cadelas metidas dessa cidade têm não são putinhas de luxo.
    Hoje, por exemplo, vi uma ninfetinha tremendamente gostosa passar de sainha branca e curta pela Siqueira Campos levantando paus por onde passava. Pensei comigo: "que putinha gostosa!"
    Tinha corpo sensual, pele branquinha, cabelos louros e pinta de patricinha.
    Sabe, dizem que têm putas universitárias deliciosas na FAINOR...
    Seriam "esforçadas" moças que, em nome dos estudos, dão o rabo para uns coroas comerciantes da cidade. As mais gostosas seriam as estudantes de direito!
    Todavia, são rumores que eu não confirmo.
    Ah, e a vadia te pedir 10 paus na hora da saída foi foda! Eu pelo menos comia ela para valer o dinheiro. Lembre-se, seria uma troca, de acordo com ela, então não haveria prostituição, você não teria explorado a idiota e continuariam "amigos".

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